sei que é meio do ano e eu devia estar mais preocupada em achar uma roupa de festa junina no armário do que uma reflexão profunda perdida nas gavetas. mas entre um gole e outro de quentão olhei pra trás e revivi a minha virada de ano.
em mais uma repetição incomodos hábitos, deixamos para resolver onde passar o reveillon em cima da hora. muitas mensagens, triangulação de distâncias e agendas depois encontramos uma casa na serra do Rio de Janeiro. quatro suítes, piscina, churrasqueira, espaço paras crianças e mesa de sinuca para quem chegasse primeiro. uma casa de Airbnb em um feriado pouco-muito programado é obviamente cercado de muitas expectivas. alguma coisa entre “pra onde eu fujo se for ruim?” e um review clichê de “as fotos não refletem o quanto o lugar é incrivel“.
não sei nem dizer ao certo pra qual lado caímos. estar ali fez eu me sentir dentro do tabuleiro daquele jogo Detetive. tinha certeza que o Coronel Mostarda ia chegar a qualquer momento, e fiquei tentando decidir debaixo de qual dos 7 sofás das 4 salas interligadas eu esconderia o candelabro.
cheguei abrindo todas as janelas – pequenas e grandes. liguei todos os ventiladores portateis dos quartos e caminhei pela casa borrifando um álcool em spray com cheiro de lavanda que a minha sogra tinha trazido de Miami, endossando meu novo hábito pos-pandemia.
muitos espirros e dias ensolarados e chuvosos depois, achei por bem que valia a pena estourarmos os espumantes no dia 31 do lado de fora da casa. não tinha festa nem fogos de artificio mas sei lá, é o tal do hábito ne? contagem regressiva, beijos, abraços, desejos sinceros e um pouco depois da meia noite alguém questionou o porquê de estarmos no frio celebrando o ano novo ao lado da gargem com meia duzia carros. voltamos para dentro da casa.
hoje eu acho que sabia porque preferia estar ali, debaixo da imensidão escura daquele ar gelado, em cima de camadas de concreto, rocha, terra e raízes.
espremida e ampla.
desconectada daquele dentro velho com cheiro de mágoas guardadas.
buscando ser inundada por algo que eu não podia ver.
ainda.


