foi no meio de uma terça-feira à noite que eu decidi: no sábado eu não vou entrar no Instagram.
precisava me blindar. aliás, eu devia mesmo não entrar nem no sábado nem no domingo.
pronto. tava decidido.
só faltava chegar o sábado e eu não cair em tentação, livrar-me do mal. amém.
e assim foi.
uma angústia abrir o celular pra responder uma mensagem, passar o olho naquele ícone e não clicar.
esperar o elevador olhando pra porta fechada do elevador.
esperar o sinal de trânsito olhando pro visor do rádio.
esperar as pessoas no restaurante olhando pro cardápio, pra rua, pro pé, pro céu.
que martírio Senhor!
esperar.
esperar o tempo. passar o tempo. olhando pra frente. olhando pra gente.
e foi então que algo bem inusitado aconteceu: as outras pessoas me olhavam, e falavam comigo, e enquanto falavam elas olhavam nos seus olhos e eu ficava perturbada. “esse ser humano não pisca?”
ou era eu que tinha desacostumado a olhar?
e veio o almoço, e a sobremesa, e café e a conta e um convite pra uma festinha, ninguém conhecido, porque não? novos amigos, novos assuntos, novos olhares e novas vozes.
e foi então que veio o segundo momento inusitado do dia: de repente ela se percebeu leve, se percebeu livre, percebeu que sem aquele rolar de fotos o tempo tinha outro tempo e a angústia passava ao largo, afinal, dizem mesmo que o que os olhos não veem o coração não sente.
e de noite me percebi dirigindo pra casa com um sorriso no rosto que ficou lá estampado enquanto dormia e não saiu no dia seguinte, e nem no outro, e nem no outro, e você não vai acreditar! passou uma semana inteirinha e eu não entrei em nenhuma rede social sequer.
nada. nadica.
e sabe o que aconteceu?
nada. nadica.
ser humano é tão autocentrado que fica achando que só porque fez um esforço danado pra tomar um decisão, acredita que depois disso um tapete vermelho vai se abrir, uma luz dourada divina vai passar a iluminar seu caminho e o mundo vai se curvar aos seus pés. sinto te dizer. vai acontecer isso não.
daí de onde você tá olhando tá tudo igual.
mas se você virar a lente e olhar pra dentro talvez veja alguma coisa deslocada. e aí é que está a beleza, nada muda, mas tudo mudou.
a onda da vez agora é falar sobre o mal que as redes sociais exercem sobre a gente. detox digital.
a mudança do sentimento de FOMO (Fear of Missing Out) pra JOMO (Joy of Missing).
todo mundo tem opinião sobre isso – e tá todo mundo publicando nas tais redes sociais as suas opiniões sobre elas próprias. e se você me der uma taça de vinho eu publico também.
mas daí que de verdade a gente fala e pouco pratica, a não ser que a bateria do celular acabe ou algum motivo real aconteça. no meu caso aconteceu.
e eu sobrevivi.
e finalmente entendi uma frase que ouvi em um podcast (afinal existem os dias de glória da tecnologia sim) que dizia que você nunca vai conhecer o seu potencial até que você o coloque em teste.
❤️