Esta foi a pergunta que ouvi de uma amiga, quando eu disse que estava toda dolorida depois de uma prova de 10km debaixo de chuva.
Não corria fazia seis anos, decidi fazer a prova duas semanas antes e 5km era tudo o que havia treinado.
Ao mesmo tempo que parecia que eu, o sofá e a TV éramos uma coisa só. Esta pergunta ficou ecoando na minha cabeça igual à música ruim quando não paramos de cantar.
Não tinha como fugir. Respondi.
Não desisti pelo mesmo motivo que me fez insistir em uma amizade que ficou por um triz quando éramos amigas há apenas dois anos e hoje já soma mais de vinte; que me fez mudar para um país que não tinha nada que me atraísse de primeira além da oportunidade de aprender uma língua nova; que me fez enfrentar muito mais de um processo seletivo depois da minha primeira demissão.
O motivo está em mim. Ou melhor, eu sou o meu motivo.
Porque as “corridas” mais difíceis que travamos definitivamente são com a gente mesmo. E por mais clichê que pareça – é raro termos esta percepção antes dos trinta e muitos.
Eu não desisti de correr só para me lembrar que esta jornada aqui a gente começa e termina sozinhos, que quem melhor pode cuidar de mim sou eu, que cuidar de mim me dá muito (ou quase tudo) do que preciso para cuidar dos que eu amo: paciência, amor e o exercício do não-julgar. Para lembrar que o meu ir e vir é livre. E que a escolha de voltar para o mesmo lugar é uma das mais prazerosas, quando neste lugar tem um quem.
Não desisti para me lembrar que não importa a lesão – seja no joelho ou no coração, a queda, o passo mais lento ou mais apressado; quem cruza a minha linha de chegada sou eu e ninguém mais.
E você “corre”? Pra quem? Pra onde? E por quê?