Carta para Düsseldorf

Barra do Una, 06 de Setembro de 2023

Acho que não sei mais escrever cartas. Entre abreviações, emojis e reações a gente vai perdendo pouco a pouco a capacidade de conjugar verbos, usar adverbio e, virgulas.
Daqui a pouco completa 3 meses que você viajou e 3 meses + 1 dia que eu estou com essa carta na minha cabeça. Na verdade, na véspera da sua ida, eu estava dirigindo distraída e fazendo uma curva na Raposo Tavares e pensei como a vida é minimamente surpreendente. Além do fato de eu não ter tido nenhum acidente dirigindo desse jeito, eu fui dar de te conhecer na sua despedida.

Sou taurina, tenho pouca simpatia com mudanças e muito ciume dentro de mim. Ciume de mãe, de irmão, de avó, de amor, de amigos. Então quando uma amiga diz que vai mudar o lugar do nosso jantar para um boteco porque é despedida de uma (outra) amiga, um furacão emerge de dentro de mim. E quando ela diz que não vai dar tempo para chegar no nosso jantar e me intima para ir atrás dela no tal bar, eu só consigo pensar que posso alegar TPM e por ser ré primária minha pena vai ser leve. Mas também sou educada e analisada o suficiente para apenas responder: “tamo indo amiga“.

E aí eu sou apresentada a você. De sorriso largo e fala apressada, que vira as costas para aquela mulherada toda e volta a sua atenção para quem acabou de chegar. O gesto simpático virou um derrame de conversa sem fim. O assunto não parou, os temas variaram, o bar fechou, a gente migrou pro bar do lado e ninguém queria ir embora. Pouco mais de 2 semanas depois eu estava vestida a carater para um churrasco junino a 21 km da minha casa, só porque era a sua despedida – de novo. E duas semanas depois, ahá, lá estava eu de volta aquele primeiro bar, dessa vez sem nem a amiga que começou toda essa estoria, para brindar a sua vida e se despedir um pouco mais.

Nesse momento eu já tava unida no coro de quem sofria com a sua partida e já sentia saudades antecipadas. Eu já estava fazendo conta em Euro com você, preocupada como o Vitão ia ficar longe dos amigos da escola, se você estava levando remédio suficiente, dando pitaco na sua vida e desejando aproveitar o quarto de hóspedes da casa que você ainda nem tinha pisado.
Porque essa é você.
Essa mulher-imã que atrai a atenção do quarteirão e faz qualquer um questionar os ponteiros do relógio, porque o seu tempo é outro. Seu pensamento acelerado esconde análises pronfudas, cheias de sentir. Sua generosidade com as pessoas é elevada no seu amor pelas amigas – as novas, antigas, preferidas ainda que preferindo mesmo todas no mesmo tom. Sua força de agir anda de mãos dadas com o choro escondido atrás da porta, e revela a alma sublime e leve de quem quer delicadamente engolir a vida sem deixar ninguém para trás.

Ma, me despedir te conhecendo foi a aula de vida mais rápida e rica que eu já tive.
Obrigada por me encaixar por entre contextos, empadas e a cerveja saideira.
Espero que você já tenha conseguido sentar na grama e simplesmente se dado ao luxo de apenas viver.

Saudades,

beijo
Lais

Um comentário em “Carta para Düsseldorf

  1. Não agradeço apenas as maravilhosas palavras sobre nossa breve (e daqui pra frente, longa) história, mas ao universo pela oportunidade de conhecer você. A lição que o tempo nos deu aqui foi linda demais: cada minuto conta, intensidade, abertura e presença para o novo trazem as melhores maravilhas da vida: amizade. Obg pelo seu tempo comigo, pelo tempo de escrever essas lindas palavras e eternizar uma amizade que por mim, será sempre intensa e presente. Amo você Lari.

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